SUFLÊ DE COUVE-FLOR À JATO.





SUFLÊ DE COUVE-FLOR À JATO.


Certa vez embarquei na cidade de Vitória, no Estado do Espírito Santo, para uma viagem de avião até a cidade do Rio de Janeiro, o clima na cidade do embarque era muito bom por volta das nove e trinta da manhã, hora da decolagem da aeronave. Após serem repassados todos os procedimentos de voo conforme de costume, seguimos em direção a Cidade Maravilhosa naquela viagem que tinha previsão de durar cerca de cinquenta minutos. Depois da tranquila decolagem chegou a hora de finalmente podermos desatar os incômodos cintos de segurança. Passados quinze minutos de voo o avião começou a balançar muito e ao olhar pela janela não conseguia mais avistar os lindos montes e os campos docemente verdes, que contemplava como miniaturas de um mundo sabiamente planejado. O comandante logo se apressou em ligar o rádio de comunicação e avisar a nós passageiros que durante os próximos momentos da viagem sobrevoaríamos entre nuvens carregadas e a forte turbulência seria inevitável. Curiosamente aquela era a primeira vez que minha poltrona se localizava exatamente na direção da asa da aeronave, mais precisamente na asa esquerda. Pude observar que nas asas ficam localizadas algumas paletas que se movimentem durante o trajeto. Essas paletas se chamam FLAP e AILERON, e servem para dar sustentação ao avião durante o voo, decolagem, pouso, e auxiliar nas curvas. Conforme avançávamos ao nosso alvo, a cidade do Rio de Janeiro, a tremulação aumentava e eu que nunca tive nenhum receio de voar em aeronaves começava a ficar preocupado e tentava buscar mais autocontrole evitando a proximidade do estado de pânico que muitas vezes se apodera dos passageiros durante um voo. Ainda em meio a forte tribulação chegara a hora de servir uma leve refeição para suprir a necessidade de alimentação dos passageiros durante o trajeto. Certamente a equipe de comissários de bordo era experiente e bem treinada, e assim, sabiam que a tribulação seria momentânea e não os impediria de seguir servindo as refeições conforme planejado para aquele voo. No entanto para mim, e certamente para outros passageiros, poderia ser mais preocupante. Naquele momento então comecei a entrar em uma espécie de pânico silencioso e comecei a achar que ia morrer. Estava ficando cada vez mais intrigado com o movimento daqueles FLAPS e AILERONS que estavam ao meu lado na asa do avião e a cada movimento me perguntava: Porque esse avião não para de tremer e balançar? Será que esses trecos não estão bem regulados e ajustados?

E apesar de já ter voado por diversas vezes fazendo diferentes trajetos sem nunca ter sentido medo ou algum tipo de desconforto, em pensamento exclamei:

- É, acho que vou morrer. Essa trepidação está muito longa e constante, certamente algum problema está acontecendo e não está sendo divulgado para evitar pânico generalizado.

Logo se aproximou uma das comissárias de bordo dizendo:

- Sua refeição senhor!

Educadamente e sem nenhuma intenção de degustar nada por causa do meu nervosismo contido, me aprecei em perguntar:

- O que será servido nesta refeição?

- Bebidas diversas e um delicioso suflê de couve-flor. A moça prontamente me respondeu.

Durante alguns breves segundos lembrei-me que nunca tinha comido couve-flor, pois desde a infância até aquele momento, sempre que me era oferecido eu dizia que não gostava, simplesmente porque nunca simpatizei com a referida hortaliça. Nunca tinha comido e sempre dizia que não gostava.

- Senhor, posso servir sua refeição? Indagou-me a jovem comissária cessando a minha reflexão com um belíssimo sorriso, padrão das companhias aéreas deste tempo.

E não hesitei em responder:

- Sim! Claro! Pode me servir o suflê de couve-flor.

Naquele momento enxerguei a possibilidade de experimentar um lindíssimo prato preparado com um alimento ainda inexplorado por meu paladar. Pensei. Se este avião cair eu certamente vou morrer - e acho que ele vai cair mesmo, mas não morrerei sem antes ter experimentado uma iguaria preparada com couve-flor, pois não tenho nada a perder.

Durante alguns minutos esqueci-me completamente da turbulência da aeronave e saboreei o singelo momento da degustação da couve-flor. Estupendo, magnífico e inédito! Como pude viver parte da minha vida sem comer couve-flor?

Ainda anestesiado pela experiência de viver o inesperado e improvável, ouvi a voz que vinha do rádio, saindo da cabine do piloto:

- Senhoras e senhores, passamos pelas nuvens carregadas e nesse momento sobrevoamos a Baía de Guanabara na cidade do Rio de Janeiro. Sejam todos muito bem vindos e tenham uma ótima estadia na cidade. Favor atarem os cintos, pois iremos iniciar o processo de aterrisagem.

Olhei novamente pela janela e além da maravilhosa cidade contemplei os FLAPS e AILERONS na asa do avião deslizando suavemente, tal como sempre aconteceu durante todo o percurso da viagem.

Desembarquei em minha cidade, a maravilhosa cidade onde nasci, passei minha infância, adolescência e juventude, e que recrio sempre em excelentes lembranças. E desde então, até os dias de hoje, saboreio a refinada e adorável couve-flor, sempre banhada em azeite de oliva e com uma leve pitada de sal.

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